O debate político e jurídico no Brasil ganhou novos contornos nos últimos dias após o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, ele se pronunciatornozeleira eletrônica ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).CNN,“, ou seja, com teor punitivo — algo, segundo ele, incompatível com o caráter cautelar da decisão.
“Estamos falando de uma medida que fere diretamente a dignidade da pessoa humana. É apenadora, sim”, disse o jurista, que passou quase 31 anos no STF.
A crítica ao uso da tornozeleira
Para Marco Aurélio, a decisão ultrapassa os limites do razoável ao aplicar uma medida de caráter ostensivamente punitivo, mesmo sem condenação judicial. O ex-ministro lembrou que medidas cautelares devem ser aplicadas com proporcionalidade e cautela, sobretudo quando atingem figuras públicas que já foram submetidas a outras restrições, como o bloqueio de passaporte e proibições de contato com certos interlocutores.
“Medidas cautelares não devem gerar constrangimento desnecessário. O que se viu foi uma tentativa de humilhação pública de um ex-presidente da República”, reforçou Mello.
A decisão de Moraes e o contexto jurídico
A imposição da tornozeleira é parte de um pacote de restrições determinadas por Alexandre de Moraes, relator no STF dos inquéritos que envolvem tentativas de golpe, ataques ao sistema eleitoral e à democracia.
Bolsonaro é investigado por seu suposto envolvimento em uma trama para obstruir investigações e intimidar autoridades, incluindo membros do Supremo e da Polícia Federal. O caso ganhou ainda mais repercussão quando surgiram indícios de que o ex-presidente e aliados estariam articulando ações internacionais, como pressões políticas nos Estados Unidos, por meio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Eduardo Bolsonaro e o lobby internacional
Desde o início de 2025, Eduardo Bolsonaro tem mantido residência nos EUA e buscado apoio político para criticar decisões do STF, especialmente as de Alexandre de Moraes. O deputado federal comemorou recentemente o cancelamento do visto diplomático de Moraes, medida adotada pelo governo norte-americano.
Segundo analistas, essa movimentação evidencia uma tentativa de internacionalizar a crise institucional brasileira, transformando uma disputa judicial em um conflito político e diplomático.
Restrições a Bolsonaro: tornozeleira, silêncio e isolamento
Além da tornozeleira, Moraes impôs restrições rígidas a Bolsonaro:
- Proibição de manter contato com diplomatas estrangeiros;
- Restrição de conversas com aliados envolvidos nos inquéritos;
- Proibição de utilizar redes sociais para se manifestar sobre as investigações.
Essas medidas, segundo Moraes, visam preservar a integridade das investigações e impedir tentativas de manipulação ou desinformação. No entanto, para críticos como Marco Aurélio, o conjunto de imposições extrapola a legalidade:
“O processo legal deve ser respeitado. Medidas como essa podem fragilizar a confiança da população no Judiciário”, alertou.

Tornozeleira em ex-presidente: um precedente perigoso?
A imposição de tornozeleira a um ex-chefe de Estado levanta questionamentos inéditos na história recente do Brasil. Embora outros ex-presidentes tenham enfrentado processos (como Lula, Fernando Collor e Michel Temer), nenhum havia sido obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
Juristas divergem sobre a legalidade e a necessidade da medida. Para alguns, trata-se de um recado simbólico e político, dado no contexto de crescente pressão sobre as instituições. Para outros, a medida é essencial para garantir o cumprimento das ordens judiciais e impedir fugas, destruição de provas ou articulações paralelas.
Polarização e desgaste institucional
A reação popular à medida é um reflexo claro da polarização que domina a política brasileira. Enquanto opositores de Bolsonaro comemoram a decisão como “justiça sendo feita”, apoiadores denunciam perseguição política.
A fala de Marco Aurélio Mello vem justamente nesse ponto sensível. Ele afirma que a Justiça precisa se preservar como instituição neutra, e não deve parecer que está atuando para humilhar um réu — independentemente de sua identidade política.
O que esperar daqui para frente?
As investigações sobre Bolsonaro devem se intensificar nos próximos meses, à medida que mais provas são coletadas. A possibilidade de uma nova denúncia formal contra o ex-presidente ainda este ano é real, o que pode abrir caminho para processos mais severos, inclusive criminais.
“É preciso apurar tudo com rigor. Mas também com respeito à Constituição”, concluiu Marco Aurélio.
O caso Bolsonaro vs. STF é mais do que um embate entre personalidades. Trata-se de uma encruzilhada institucional, onde se testam os limites da Justiça, a força das garantias individuais e a resistência da democracia brasileira.
A fala de Marco Aurélio Mello serve como alerta: punição e Justiça não devem ser confundidas. Medidas simbólicas e midiáticas podem produzir efeitos contrários à estabilidade institucional.











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