No último domingo (3), durante o encerramento do 17º Encontro Nacional do PT em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva soltou o verbo – mas nem tanto. Falando sobre o recente embate com o ex-presidente americano Donald Trump em torno das tarifas aplicadas aos produtos brasileiros, Lula disse que precisa saber até onde pode ir nessa briga. “Tenho um limite de confronto com o governo dos Estados Unidos. Não posso sair falando tudo que eu acho. Tenho que dizer o que é necessário”, disparou o petista, visivelmente incomodado com a postura de Trump.
Lula deixou claro que, na sua visão, o ex-presidente dos EUA foi longe demais nas provocações. “Ele ultrapassou os limites porque quer destruir o multilateralismo”, criticou, referindo-se ao esforço conjunto entre países para tomar decisões globais. Segundo Lula, a tentativa de Trump de transformar desentendimentos políticos em cobranças econômicas é, no mínimo, injustificável. “Querem taxar o Brasil como se fôssemos uma republiqueta qualquer. Nós exigimos respeito pelo nosso tamanho e pela nossa soberania.”

E aí que a treta ficou mais interessante. Enquanto Lula se pronunciava em solo brasileiro, Trump, em Washington, respondeu a uma pergunta da TV Globo com certo tom de desdém: “Lula pode falar comigo quando quiser.” A declaração foi dada na Casa Branca, e pareceu mais um gesto protocolar do que uma verdadeira abertura ao diálogo.
O republicano não parou por aí. Trump afirmou que as novas tarifas não são fruto de uma retaliação comercial tradicional, mas sim uma resposta ao que chamou de “erros cometidos por quem governa o Brasil”. Uma fala que, apesar de indireta, foi vista por muitos como uma cutucada direta na gestão de Lula.
Horas depois, já no calor da repercussão, Lula reagiu nas redes sociais. No X (antigo Twitter), ele escreveu: “Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições.” Uma resposta que parece mais institucional que emocional, mas que deixa no ar a tensão entre os dois líderes.
Nos bastidores do Planalto, fontes próximas ao presidente dizem que Lula tem tentado equilibrar o discurso. Ele sabe que bater de frente com uma potência como os EUA não é simples, ainda mais num cenário global já tão conturbado — guerras, clima econômico instável, mudanças no cenário do comércio internacional, enfim… O Brasil não pode se dar ao luxo de comprar brigas sem pensar nas consequências.
A discussão sobre tarifas ganhou ainda mais peso porque afeta diretamente setores da economia brasileira, como o agronegócio e a indústria de base. Há temor de que outras nações sigam o mesmo caminho de Trump, impondo restrições comerciais com base em argumentos políticos.
Vale lembrar que, apesar de já não estar na presidência, Trump ainda é uma figura extremamente influente nos EUA e pode voltar ao cargo dependendo do resultado das eleições americanas de novembro. Ou seja, esse conflito pode estar apenas começando — ou pelo menos ganhando um novo capítulo no meio dessa disputa geopolítica que mistura interesses econômicos, vaidades políticas e, claro, redes sociais.
No fim das contas, o recado de Lula foi simples, mas cheio de recados nas entrelinhas: o Brasil quer respeito, sim, mas não está disposto a fazer papel de bobo. E embora o tom do discurso tenha sido contido, ficou claro que a paciência do presidente com o “tarifaço” americano tá no limite.