Teixeira de Freitas, cidade localizada no extremo sul da Bahia, é conhecida por seu papel estratégico na economia regional. Com mais de 160 mil habitantes, a cidade é um importante polo comercial, educacional e logístico. No entanto, por trás do aparente progresso, há uma realidade sombria que coloca em risco a vida dos moradores: a escalada da violência urbana, a presença cada vez mais intensa de facções criminosas e o abandono do poder público.
Hoje, Teixeira de Freitas vive uma rotina marcada pelo medo, pelo silêncio e pela impunidade. Com uma taxa de homicídios superior à média nacional, o município se tornou um dos mais violentos do interior do Brasil. Neste artigo, o Brasil Contra a Corrupção investiga a origem dessa crise, analisa seus impactos e propõe caminhos concretos para devolver à cidade sua dignidade e segurança.

O Cenário da Violência em Teixeira de Freitas
Dados Alarmantes
De acordo com o Atlas da Violência, publicado pelo IPEA e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Teixeira de Freitas figura com frequência entre os municípios mais letais da Bahia. Em 2023, a cidade registrou mais de 50 homicídios por 100 mil habitantes, número que ultrapassa o de muitos conflitos armados ao redor do mundo.
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Além dos assassinatos, os moradores convivem com assaltos à mão armada, roubos a estabelecimentos comerciais, furtos de veículos, violência doméstica e tráfico de drogas. A sensação de insegurança atinge todos os bairros — do centro aos mais afastados.
“A gente não anda mais tranquilo nem de dia. O medo está em todo lugar, e a polícia não dá conta”, relata Marcos Andrade, comerciante da cidade.
Causas da Crise de Segurança
Disputa de Facções Criminosas
Um dos principais fatores para a crescente violência em Teixeira de Freitas é a disputa territorial entre facções criminosas. Organizações como o Comando Vermelho (CV) e o BDM (Bonde do Maluco) travam batalhas pelo controle do tráfico de drogas, resultando em tiroteios, execuções públicas e o domínio de comunidades inteiras.
As facções também disputam rotas de escoamento por rodovias federais, como a BR-101, que passa pela cidade e facilita o transporte de drogas e armas. O município virou ponto estratégico do crime organizado, sem que o Estado tenha reagido à altura.
Ausência do Poder Público
A presença das autoridades é insuficiente. Falta policiamento ostensivo, há poucos postos policiais e o número de agentes civis e militares não acompanha o crescimento populacional. Além disso, as viaturas são escassas, os equipamentos obsoletos e a inteligência policial ineficiente.
Essa ausência do Estado cria um vazio de poder, ocupado rapidamente por criminosos que impõem suas próprias regras em diversas regiões da cidade.
Desigualdade Social e Falta de Oportunidades
Outro agravante é o contexto social. Altos índices de desemprego, baixa escolaridade, pobreza extrema e ausência de políticas públicas de inclusão favorecem o aliciamento de jovens pelas facções. Sem perspectivas, muitos veem no crime um caminho de sobrevivência.
Impactos Diretos na População
Medo e Reclusão Social
A rotina de muitos moradores foi drasticamente alterada. Escolas suspendem aulas por conta de tiroteios, comércios fecham mais cedo e eventos públicos são cancelados por falta de segurança. Moradores evitam sair de casa após o entardecer e alteram trajetos para evitar áreas de risco.
Colapso no Comércio Local
O comércio, que é um dos pilares econômicos de Teixeira de Freitas, sofre com a violência. Assaltos frequentes, ameaças de extorsão e a queda no movimento de clientes têm levado empresários a encerrar atividades. Isso gera um ciclo negativo de desemprego e retração econômica.
Efeitos Psicológicos
O medo constante afeta a saúde mental da população. Psicólogos da região relatam aumento nos casos de ansiedade, depressão e traumas psicológicos. Crianças e adolescentes são os mais afetados, crescendo em um ambiente onde o barulho de tiros e a morte se tornam comuns.
O Silêncio das Autoridades
Apesar da gravidade da situação, o poder público pouco se pronuncia. Os planos de segurança são vagos, descontinuados ou meramente eleitoreiros. O governo do Estado da Bahia, responsável pela segurança pública, tem sido alvo de críticas por não implementar políticas efetivas e por negligenciar o interior do estado, dando atenção prioritária à capital Salvador.
O município também falha ao não promover ações preventivas, como apoio a projetos sociais, parcerias com ONGs ou incentivos à educação profissional. A ausência de diálogo entre prefeitura e governo estadual agrava a desarticulação no combate ao crime.
Caminhos Possíveis: Como Romper o Ciclo da Violência
Reforço Imediato da Segurança Pública
É urgente a ampliação do efetivo policial, o envio de tropas especializadas e a implantação de bases comunitárias de segurança nos bairros mais afetados. Também é necessário investir em inteligência policial, monitoramento por câmeras e combate ao tráfico interestadual.
Educação e Inclusão Social
Sem educação de qualidade, o futuro de Teixeira de Freitas será sempre ameaçado. É preciso recuperar escolas, apoiar educadores, criar centros de formação técnica e oferecer bolsas de estudo. Projetos esportivos e culturais também são essenciais para tirar jovens das mãos do crime.
Parcerias com a Sociedade Civil
ONGs, igrejas, associações comunitárias e lideranças locais devem ser envolvidas em programas de prevenção à violência. A criação de conselhos de segurança participativos, com voz ativa da população, pode gerar soluções mais eficazes e adaptadas à realidade local.
Transparência e Combate à Corrupção
Para que a segurança funcione, é preciso garantir a correta aplicação dos recursos públicos. Denúncias de corrupção em contratos de segurança, compras de equipamentos e obras paralisadas devem ser investigadas com rigor. A impunidade da má gestão contribui para o agravamento do caos.
Sugestões para os Moradores
- Denuncie com segurança: Use o Disque Denúncia (181) de forma anônima.
- Participe de conselhos comunitários: Organize sua comunidade e dialogue com autoridades locais.
- Apoie e participe de projetos sociais: O envolvimento local é vital para transformar o território.
- Eduque e oriente os jovens: Incentivar o diálogo em casa e acompanhar a rotina escolar é fundamental.
- Fiscalize a gestão pública: Cobre, pergunte, compartilhe informações e participe de audiências públicas.
Conclusão: Uma Cidade Refém da Violência, Mas Não Sem Esperança
Teixeira de Freitas, uma cidade rica em potencial humano e econômico, está sendo consumida pela violência e pelo descaso. O medo tomou conta das ruas, as famílias vivem acuadas e os jovens estão sem esperança. A ausência de políticas públicas efetivas e a presença crescente de facções criminosas colocam o município em rota de colapso social.
Mas ainda é possível mudar essa realidade. A pressão da sociedade, o voto consciente, a união das lideranças comunitárias e o comprometimento das instituições podem abrir um novo capítulo para a cidade. Teixeira de Freitas não pode continuar como território do medo — ela precisa ser recuperada para seu povo.
O Brasil Contra a Corrupção seguirá acompanhando, cobrando e denunciando. Porque onde há medo, deve haver coragem. E onde há abandono, deve haver resistência.